O cancro bacteriano é provocado por bactérias do complexo de espécies de Pseudomonas syringae. Esta doença pode causar elevados prejuízos na cultura da cereja, principalmente em árvores jovens, sendo mais problemático nos primeiros seis anos de vida, uma vez que pode levar à morte das árvores infetadas.
A doença foi identificada pela primeira vez em Portugal, pelo INIAV, IP. em 2019. No nosso país, a doença encontra-se espalhada em diferentes regiões, existindo na região Norte e Centro e no Alentejo. A nível internacional é uma doença que se encontra mundialmente distribuída.
As diferentes espécies do género Prunus podem ser afetadas pelas estirpes da bactéria que se encontram identificadas a nível internacional, podendo estas ser encontradas em cerejeira, pessegueiro, damasqueiro, ameixeira, amendoeira, etc.
Sintomas
Os principais órgãos afetados por esta doença são as folhas, os frutos e os raminhos. Desta forma, os sintomas mais visíveis são os cancros nos ramos principais e secundários, e nos ramalhetes de maio.
No caso das folhas, estas podem apresentar pequenas manchas circulares com auréolas cloróticas, que podem unir-se de forma a originar necroses de maior dimensão. Estas lesões podem separar-se, ficando a folha com pequenas perfurações. Folhas pequenas, amareladas, enroladas e secas são também outros sintomas que podem ocorrer.
Os frutos podem apresentar manchas arredondadas que evoluem e que causam a necrose parcial ou total dos frutos, que podem cair antecipadamente ou ficar mumificados na árvore. Os frutos podem também apresentar pontos encortiçados na sua casca.
Nos raminhos a exteriorização dos sintomas é mais grave, tal como referido anteriormente, uma vez que quando infetados possuem pequenos cancros e gumoses que podem levar à eventual dessecação das flores e folhas. A evolução destes cancros pode conduzir à morte da árvore. Esta doença leva a que os gomos e ramalhetes de maio não rebentem ou rebentem de forma irregular, ou, noutras situações, a que as flores abortem mesmo que os ramalhetes tenham aberto.
Para além disto, as árvores infetadas podem definhar gradualmente ou secar de repente (apoplexia) e podem ainda ter uma grande quantidade de frutos, mas de qualidade inferior, não conseguindo completar a maturação.
As plantas infetadas pelas bactérias tornam-se também mais suscetíveis às geadas fracas, uma vez que, os gomos, as flores e as folhas podem ser danificados por estas condições, o que não aconteceria caso a planta estivesse sã. Desta forma, diz-se que a bactéria tem uma “capacidade congelante”.
Condições favoráveis à doença
A bactéria desenvolve-se principalmente durante a primavera e verão, com épocas frias e húmidas, seguidas por períodos com temperaturas amenas ou elevadas (15 a 28ºC). Invernos muito frios e chuvas abundantes, principalmente chuvas mais abundantes em dezembro e janeiro são condições bantante favoráveis à doença.
A poda pode ter também um efeito significativo nesta bacteriose, nomeadamente as podas de inverno, uma vez que, a bactéria pode desenvolver lesões quando existem baixas temperaturas e geadas. No entanto, todas as feridas de poda nos ramos, quebra de ramos, cortes de enxertia, feridas provocadas pelo granizo, entre outros, podem ser portas de entrada das bactérias.
A pequenas distâncias, a chuva, o vento, os insetos e os pássaros constituem agentes de dispersão da bactéria. Por outro lado, os principais veículos de dispersão da bactéria a longas distâncias são os materiais de plantação e propagação.
O stress hídrico no verão, principalmente após a colheita, e o excesso de água no inverno tornam as árvores mais sensíveis ao cancro bacteriano.
Em relação ao solo, existe uma maior sensibilidade por parte de árvores plantadas em solos ácidos, ou seja, quando existe uma deficiência de cálcio no solo.
Para além disto, existem variedades e porta-enxertos mais suscetíveis a esta doença. Verifica-se igualmente que a altura da enxertia está também relacionada com uma maior ou menor suscetibilidade da planta à doença.
Medidas preventivas
Algumas medidas preventivas da doença passam por medidas culturais, como a não plantação de cerejeiras em zonas propensas a geadas e a frio intenso.
Desta forma, torna-se essencial a planificação do local da plantação com uma atenção especial ao tipo de solo (evitar solos muito ácidos), ao sistema de drenagem do pomar, à utilização de variedades e porta-enxertos resistentes ou tolerantes, à localização da enxertia (enxertar a meio metro de altura) e à utilização de plantas sãs e certificadas.
Outros meios preventivos passam também pelo maneio da cultura, com a formação das árvores, ou seja, com o facto de se dever evitar a formação de árvores com ramos muito perto do solo, com a realização das podas com tempo seco, com a destruição das plantas infetadas e contíguas nos sítios afetados e com a não incorporação no solo da lenha de poda.
Para além destas medidas, todos os instrumentos de poda e alfaias agrícolas devem ser desinfetados.
Deste modo, não existem meios de controlo absolutamente eficazes, uma vez que não existem produtos fitofarmacêuticos homologados para a cultura que tenham um efeito curativo da doença, sendo apenas recomendados tratamentos preventivos com cobre ao inchamento dos gomos.
Soluções Arvensis para o controlo do cancro bacteriano
Um produtor de cerejas da Cova da Beira, com um historial de cancro bacteriano nos seus pomares de 8 anos, realizou três tratamentos com os produtos da Arvensis nas variedades Early Bigi, Early Lory e Prime Giant. Os produtos aplicados foram o Quitosbac e o Lignomix num total de cinco hectares de cultura. Estes produtos foram aplicados em mistura, tendo sido utilizados 3L/ha de Quitosbac com 2 L/ha de Lignomix, em pulverização foliar.
Quitosbac
É um produto elaborado a partir de quitosano, biopolímero de aminopolissacarídeos extraído da quitina, componente estrutural do exoesqueleto de crustáceos. (nº CAS: 9012-76-4). O quitosano é tratado com ácido clorídrico para obter cloridrato de quitosano que possui uma solubilidade mais alta em água.
O Quitosbac é uma substância de base com ação estimulante dos mecanismos naturais de defesa frente a bactérias. As plantas possuem recetores para identificar este polissacárido, o que lhes confere uma resposta autoimune. O grau de acetilação da cadeia do polímero e a distribuição dos monómeros que formam o polímero, tornam o Quitosbac muito eficiente no controlo de bactérias.
Este produto é 100% natural, sem resíduos e sem intervalo de segurança.
Lignomix
É um bioestimulante com lignosulfonato de alumínio, cobre, manganês e zinco. É um produto com forte sistemia ascendente e descendente e com um efeito preventivo em bacterioses e doenças fúngicas. Também promove a rebentação e a síntese de lenhina, regenerando o tecido
vascular danificado. O produto favorece a formação de compostos fenólicos e fitoalexinas que permitem à planta defender-se de agentes patogénicos. Tem ainda um efeito cicatrizante em feridas de poda ou de colheita.
A realização destes tratamentos decorreu entre os estados fenológicos inchamento do gomo, floração e a queda das pétalas, e foram efetuados com um intervalo de sete dias.
Após a realização destes tratamentos verificou-se uma melhoria significativa, com a redução da doença, inexistência de sintomas e o controlo das bactérias.
Desta forma, é possível concluir que a realização deste esquema de tratamentos conduziu a uma diminuição das bactérias na cultura da cereja, podendo ser esta uma solução para o controlo do cancro bacteriano, tanto em agricultura convencional, como num sistema de produção sem resíduos ou em modo de produção biológico.
Fontes: